14 de out. de 2018

SÃO OSCAR ROMERO, ROGAI POR NÓS.



A canonização do bispo salvadorenho Dom Romero me emocionou, pois lembro que chorei seu assassinato em 1980. Naquele ano eu já havia deixado a prática católica, mas admirava aquela figura corajosa, assim como admirava Ernesto Cardenal e Leonardo Boff pela radicalidade de suas posições na luta por justiça e igualdade. 

A emoção com certeza é fruto também de marcas do cristianismo que ficaram em mim, pois somos feitos pela nossa história, as palavras de nossas biografias não se apagam por completo. Nunca.

Meu primário foi em colégio salesiano, mas desde muito cedo, criança mesmo, minha formação religiosa se deu no convívio com padres estigmatinos (da Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo), na Igreja de São Benedito em Campinas, SP. Aos 13 anos ingressei na Comunidade de Jovens, fiz cursinho T.L.C (Treinamento de Liderança Cristã), aprendi a cultivar a espiritualidade.

Alguns de nós chegamos também a flertar com o nascente movimento da Renovação Carismática que foi levada a Campinas por jesuítas como Haroldo Rahn e Eduardo Dougherty (que aportuguesaram seus primeiros nomes). Hoje entendo o sentido daquele movimento como reação à Teologia da Libertação, mas ficou algo dele também como marca, penso que certo sentido do ato de “orar”.

Houve uma época, lembro-me bem, que nós, jovens, assistimos ao filme “Irmão Sol, irmã Lua”, história de Francisco de Assis, e fomos arrebatados pela visão de mundo e pela mística franciscana.  De todas as marcas, esta foi a que ficou mais impregnada em mim. Lembro-me que seis anos após meu afastamento do catolicismo conheci a obra de Leonardo Boff e cheguei a me envolver tanto em sua leitura que escrevi uma carta a ele. A resposta, ainda em tempos de correspondência manuscrita, me chegou. Infelizmente perdeu-se com outros papéis. O tema? O assunto? Vocação!

Como tive muitas “vocações”, muitos chamados, aquele fervor franciscano não se transformou em opção de vida e outras formas de espiritualidade tomaram seu lugar, mas ah...sim, deixou marcas.

Em tempos difíceis para o Brasil, com a ameaça às liberdades, com o ódio sendo esbravejado e materializado em assassinatos e agressões, eu, enfrentando certo abatimento, permito que as marcas de Francisco de Assis aflorem, revivam em meu espírito. Inclino-me em prece ao novo santo e peço a ele que interceda por nós.

Contradição? E quem não traz em sua biografia marcas contraditórias e ambíguas?

Pax et bonum!

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