8 de out. de 2016

“Saindo pela esquerda”: a mediocridade interna hegemônica no PT vai finalizar o desmanche desencadeado pela direita neoconservadora.

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Rafael José dos Santos
Caxias do Sul, RS.

Como aconteceu com muitos, a conjuntura que se acirrou nos últimos tempos levou-me de volta à militância política. Claro, retornei à militância no partido em que me filiei pela primeira vez em 1980, ainda na cidade de Campinas*. Hoje, com as reflexões abaixo, despeço-me dele depois de um período curto de retorno, mas suficiente para compreender que ele deixa de ser a alternativa para meu horizonte do “utópico possível”.

A candidatura majoritária do PT não passou para o segundo turno das eleições municipais em Caxias do Sul, RS, ficando em terceiro lugar. Entre os motivos, saltou aos olhos o mesmo sentimento antipetista que vinha tomando corpo na sociedade brasileira em geral desde pelo menos 2014 e que forneceu o substrato ideológico para o golpe branco cujo marco inicial foi a aprovação da admissibilidade do impeachment da presidenta Dilma Rousseff no fatídico 17 de Abril. A derrota do PT nas urnas foi um fenômeno de abrangência nacional, salvo poucas exceções.  

O sentimento antipetista teve como maior veículo os monopólios midiáticos e o golpe foi levado a cabo pelas mãos de políticos do PMDB, de todo o PSDB e da bancada BBB (Boi, Bíblia e Bala), que representam os interesses do ator político maior, o capital financeiro global. O antipetismo é um dos ingredientes de uma espécie de neoconservadorismo que acompanha a reação do capital e unifica sentimentos autoritários, homofóbicos, xenófobos, racistas, antifeministas, entre outros, desdobrando-se em movimentos como a “Escola sem partido”, ataque frontal às tentativas de fazer da educação um instrumento de reflexão crítica.

O golpe foi uma reação aos avanços promovidos pelos dois primeiros governos Lula e, em particular, pelo primeiro governo Dilma.  O que chama a atenção nas opiniões favoráveis ao retrocesso é que elas valorizam sobremaneira os avanços sociais e culturais, enquanto uma parcela da esquerda avaliava tais avanços como tímidos e exigia mais. Muito à esquerda para os interesses do capital e para as concepções de mundo neoconservadoras, ainda à direita ou ao centro para parte da esquerda. De qualquer forma foram avanços, como comprova a urgência do governo golpista em desmontá-los a “toque de caixa” implementando a agenda do capital.

Do ponto de vista das críticas à esquerda, muitas eram oriundas do próprio interior do PT, outras vinham de partidos como o PSOL. Um dos temas era a tese da “governabilidade”, que delineava políticas de aliança e obrigava a concessões que atrasavam o ritmo das mudanças necessárias ou até mesmo as impedia. O assunto não é novo e relaciona-se com uma problemática já clássica na história da esquerda: a da atuação no interior do Estado e do jogo político dentro das regras da democracia liberal. A política da “governabilidade” era um dos sintomas do gradual afastamento do PT em relação às suas origens e aos seus princípios, sua progressiva verticalização, o distanciamento relativo dos movimentos sociais, enfim, da base e das tendências que serviriam como contraponto crítico à sua atuação no governo. Não se tratava e não se trata apenas de críticas ao governo, mas também e principalmente aos rumos do partido, tendo como representante a corrente “Mensagem ao Partido”, que aglutina algumas tendências da esquerda do PT em oposição ao chamado “Campo Majoritário”.

O golpe acirrou o debate interno, uma vez que muitos compreenderam que, não obstante ele ter sido levado a cabo pelos representantes do Capital (tanto no campo político como no cultural), ele também foi possível pela fragilidade gerada pelos rumos do PT. Logo após o primeiro turno das eleições municipais, a Democracia Socialista (DS), tendência que integra a “Mensagem ao Partido”, lançou a nota “A derrota de 2 de outubro e as perspectivas da esquerda”. Nela, a DS faz uma avaliação lúcida da conjuntura política e finaliza lançando o desafio de mudanças urgentes no PT:

A responsabilidade central dessa trajetória de derrotas é, obviamente, do nosso partido, da sua direção nacional.  Porque era quem poderia corrigir rumos e optou por se adaptar às circunstâncias, ao invés de tentar mudá-las. Essa inércia chegou até o domingo, 2, e tocou o fundo do poço. Não pode mais continuar.
Nas mobilizações sociais e contra o golpe de Estado em 2016 e nos resultados eleitorais registramos que continua a existir energia popular e de esquerda.  Fomos derrotados, mas podemos reconstruir um projeto capaz de enfrentar a direita e disputar novamente corações e mentes.
A resposta urgente e necessária é mudar o PT, construir um novo programa sob a perspectiva do socialismo democrático, definir novos métodos de organização com base em uma estratégia que inclui a disputa eleitoral e volta a combina-la com a disputa social e cultural, estabelecer claramente o compromisso com a construção da unidade da esquerda e eleger uma nova direção. Essas tarefas são urgentes e vamos lutar para realiza-las já, através de um Congresso emergencial.
Por isso, Muda PT Já!

No dia 4 de Outubro, a vereadora Ana Corso (PT/Caxias do Sul) posta em sua página no Facebook uma posição que gerou polêmica, pois ao se posicionar contra os candidatos da situação Néspolo (PDT, prefeito) e Antonio Feldman (PMDB, vice), acabou por chamar votos para Daniel Guerra do PRB:



Indignado lendo os comentários que defendiam o voto no candidato do PRB golpista, postei minha opinião:

Provincianismo casado com política local concebida como briga entre "turmas". Nespolo é uma face, Guerra é a outra face. Alguém lembra de quem são as faces?
Não aprendemos nada. Vamos seguir tentando desastrosamente dar respostas pontuais sem nos colocar a questão de fundo: “quais serão as correções de rumo?”. Olhar o Brasil, o mundo (não o mundinho) e nos perguntarmos sobre os rumos da construção do socialismo e da democracia. “Por favor, pensar grande!”.

Aos que defendiam o voto nulo nas postagens, a vereadora e outros petistas respondiam que votar nulo era votar “no Néspolo”, argumento bastante recorrente nos debates de Internet. A única interpretação possível é que a vereadora conclamava o voto no PRB.

 Não satisfeito, redigi um texto chamado “A Síndrome do Raciocínio Eleitoral”: Esboço para contribuição ao debate inevitável e que coloquei em circulação em alguns grupos fechados. Tomo a liberdade do autoplágio e aproveito aqui alguns trechos dele. Escrevi que em Caxias do Sul havia se configurado uma disputa entre, de um lado, uma coligação de muitos partidos que têm PDT e PMDB à frente, juntos de mãos dadas; de outro, o PRB representado por Daniel Guerra, uma candidatura de traços conservadores, mais acentuados, ou pelo menos mais visivelmente conservadora que seus adversários. O PDT que encabeça a primeira chapa com o candidato Néspolo está longe de ser o PDT brizolista. Antes, é um PDT fisiológico que se apresenta pela segunda vez como continuidade de uma administração do PMDB e vincula-se ao atual Governa do Estado.

O comentário mais representativo que li: “Fora nespolo agora é guerra” (sic!). Frente a algumas objeções e defesas de voto nulo ou branco, a vereadora do PT afirmou: “Quem fez a campanha mais imunda contra nós foi o Néspolo, o Guerra nem nos agrediu, foi respeitoso”. Argumento fraco, ele demonstra que a vereadora caiu na armadilha da estratégia de campanha do candidato do PRB, com a imagem de bom moço.

Dois pontos principais chamam a atenção. O primeiro é o fato da vereadora do PT não ter aguardado o debate interno para se posicionar. O segundo ponto é o mais sintomático: o “debate” no Facebook assemelhava-se às discussões sobre eleições em barbearias de cidades muito pequenas, inclusive com declarações que não escondiam um preconceito social que, mesmo voltado contra a figura de um político fisiológico de direita, persiste como índice de preconceito: “Esse bota suja pra não falar outra coisa. Pior prefeito que Caxias do sul já teve, perde até pro Vitório Três. Encheu de CCs um bando de incompetentes...”. (Grifo meu). Ou ainda: “O Prefeito Bombachudo nos chamou de ladrões. Cai fora Gaudério vai procurar tua turma”.

Expressões como “bota suja” (pejorativa) e “bombachudo” remetem à figura do gaúcho que trabalha no campo e, no contexto de Caxias do Sul, que não possui ascendência “italiana”, como é o caso do atual prefeito Alceu Barbosa Velho. Fisiológico sim, mau político sim, fez campanha “suja” sim, mas afirmações discriminatórias são graves, porque denotam a existência de um preconceito que certamente não surgiu apenas em função do candidato e das eleições. Mais grave ainda quando vêm de militantes, filiados ou simpatizantes do PT.

Antes que dissessem que eu defendia o atual prefeito e seu candidato, afirmei que o outro é representante de um dos partidos que votou em bloco a favor da admissibilidade do processo de impeachment, Daniel Guerra. Este é o candidato indicado pela vereadora Ana Corso do PT caxiense para o segundo turno (recordando a fala da vereadora: “votar nulo é votar em Néspolo”).

O que notei na maior parte das postagens foi a concepção do “jogo do jogo” político eleitoral, no qual o discurso de (eu disse de, não dos) petistas não alcançava um universo maior do que as disputas locais e não pensava a política tendo como pano de fundo um projeto maior. É como se a luta de classes se restringisse à praça central de Caxias do Sul, a praça Dante.

O fato de parte da militância petista ter se deixado levar pela armadilha do “quem é o mal menor” (variante do “voto útil”) aponta para algo mais grave ainda, mas que já foi diagnosticado antes e vem sendo objeto de muito debate, compondo os elementos da atual crise no que diz respeito à esquerda (no que diz respeito à direita, já sabemos). Trata-se da “síndrome do raciocínio eleitoral”, muito grave em uma esquerda que se pretenda socialista. Consiste na incapacidade de ampliar o horizonte das lutas para além do campo eleitoral e dos limites da democracia liberal (para além, não para fora dela). Essa incapacidade subverte o raciocínio: em vez de analisar conjunturas amplas e, a partir dai definir as estratégias e táticas, olha-se para o quadro eleitoral imediato e personaliza-se o debate (“fulano isso, sicrano aquilo”).

Fica obscurecido pela ideologia o fato de a participação na luta política eleitoral ser parte das estratégias e não um fim em si mesmo.  O problema, quando vem da militância de base, aponta para a ausência de formação política sólida, mas, sobretudo para a incapacidade de romper com o obscurecimento ideológico.
A “síndrome do raciocínio eleitoral” é um dos subprodutos das opções feitas por parte das lideranças petistas nos últimos anos, que levaram ao afastamento já tão alardeado dos movimentos sociais e, sobretudo, da ausência de reflexão praxiológica sobre os caminhos para o socialismo.

Nada, contudo, está tão ruim que não possa piorar. No dia 6 de Outubro o Diretório Municipal de Caxias do Sul realizou reunião ampliada, aberta, da qual não pude participar porque estava trabalhando. Da reunião saiu a nota que reproduzo na íntegra abaixo:

RESOLUÇÃO DO PT-CAXIAS DO SUL SOBRE AS ELEIÇÕES 2016

Enfrentamos a eleição mais difícil da nossa história, em função da ofensiva nacional contra o PT, patrocinada pelas classes dominantes, em especial pela mídia oligopolizada, criminalizando somente e todo o PT pela corrupção. Além disso, apesar de fora do governo desde maio, culpam o PT pela crise econômica, que se aprofunda pelo ajuste neoliberal do governo Temer. Tais fatos reduziram a votação do PT em todo o país.
Mesmo com a brutal ofensiva anti-petista chegamos a 25,27% dos votos. Agradecemos aos eleitores que confiaram em nossos candidatos à prefeitura e à câmara de vereadores. Agradecemos às pessoas que apoiaram nossas atividades de campanha eleitoral, que contaram exclusivamente com militantes voluntários. Agradecemos aos que contribuíram financeiramente para a campanha.
Embora as visíveis diferenças entre os modestos gastos da nossa campanha, quando comparados à cara estrutura da coligação governista, julgamos positiva a nova lei eleitoral, que vedou o financiamento empresarial e os instrumentos de propaganda eleitoral mais dispendiosos, dificultando o abuso do poder econômico, embora não eliminando-o totalmente.
O fato de não dirigirmos a prefeitura nos últimos anos nunca nos impediu de trabalhar em favor do povo da nossa cidade. Através dos nossos mandatos no legislativo municipal, estadual e federal sempre defendemos os interesses da nossa população, em especial dos que mais precisam de políticas públicas. Nossa atuação no governo federal garantiu importantes obras no município, permitiu o sonho da casa própria para milhares de pessoas através do minha casa minha vida, o acesso à universidade por meio do Prouni e do FIES para milhares de jovens, a garantia de renda para milhares de famílias pobres graças ao Bolsa Família e financiamentos subsidiados para a indústria e a agricultura gerando renda e empregos na cidade. Reafirmamos nosso compromisso em trabalhar em favor do povo da nossa cidade através dos nossos mandatos no legislativo municipal, estadual e federal.
A Resolução da Direção Nacional do PT orienta nossa militância a apoiar as candidaturas do PSOL, do PCdoB, da Rede e do PDT, onde há segundo turno. Mas sugere aos diretórios municipais que avaliem localmente a quem devemos negar apoio e voto.
Neste sentido, nossa primeira afirmação é que nenhum dos dois projetos políticos que foram ao segundo turno são de nossa responsabilidade e não representam nossas posições.
Nespolo é do PDT, mas as opções políticas deste partido em Caxias e o fato de dirigirem a administração municipal nos levam a negar-lhes nosso apoio e nosso voto.
Os eleitores de Caxias do Sul, no primeiro turno, votaram majoritariamente contra a atual administração municipal, um conluio de 21 partidos que inchou a máquina pública com CCs, para cooptar siglas partidárias que lhes dessem maior tempo na propaganda eleitoral em rádio e TV, visando sua perpetuação no poder.
As oposições somaram 56,4% dos votos válidos contra 43,5% da situação. Considerando votos brancos, nulos e abstenções, Nespolo foi rejeitado por 65,3% dos eleitores.
Esta aspiração por mudança é legítima, pois o retrocesso nos serviços de saúde, a falta de vagas na educação infantil, a burocracia no acesso a serviços públicos, o abandono dos loteamentos e bairros mais pobres, a ausência de efetiva participação popular, entre outras mazelas, compõe a triste realidade depois de 12 anos de continuidade do atual grupo político à frente da prefeitura.
Esta realidade também é fruto do governo Sartori, que não tem resposta para o caos da segurança e demais serviços públicos, além de não pagar os salários do funcionalismo. A coligação de Nespolo representa não só o governo Sartori, mas também as principais forças que dão sustentação ao ilegítimo governo Temer e sua agenda de ataque aos direitos dos trabalhadores. A direção do PDT de Caxias e o próprio Nespolo apoiaram o golpe que levou Temer ao poder sem o voto popular.
A campanha de Nespolo adquiriu contornos fascistas ao propor que os eleitores votassem pelo fim do PT, criminalizando somente e todos os petistas pela corrupção. Uma hipocrisia, vinda de um bloco de partidos que tem o maior número de investigados ou condenados pela operação lava jato, inclusive Eduardo Cunha, do PMDB, sigla do seu candidato a vice-prefeito. E o PDT, recentemente, teve o deputado Bassegio cassado pela Assembleia Legislativa por amealhar parcela dos salários dos seus assessores.
Apesar das nossas divergências com a candidatura de Daniel Guerra, reconhecemos sua candidatura como de oposição ao atual governo municipal. Seu partido também apoiou o golpe e consideramos um grave equívoco sua pregação contra os partidos e contra a política. Ele se beneficiou da pregação antipetista de parte da mídia e da campanha de Nespolo, recebendo votos de eleitores que, assim como nós, desejavam mudança na prefeitura.
Não negociaremos nosso apoio nem aceitaremos convite para composições de governo.
Defendemos a necessidade de mudar a administração municipal, mas não daremos apoio formal à candidatura de Daniel Guerra. Compreendemos as manifestações de eleitores que votaram na nossa candidatura no primeiro turno e agora votarão em Daniel Guerra para impedir a vitória do continuísmo.
Desde já afirmamos que fiscalizaremos os atos da futura administração de Caxias do Sul e cobraremos o atendimento das justas demandas da população, além da defesa que faremos dos direitos dos trabalhadores frente aos ataques dos governos Temer e Sartori. (Grifo meu).

Contestei e protestei contra a Resolução afirmando que os últimos parágrafos (em itálico) eram de apoio explícito ao candidato do PRB, e que do ponto de vista textual tratava-se de uma afronta à inteligência. O Deputado Federal Pepe Vargas respondeu assim ao meu posicionamento:

Não estamos apoiando o Guerra. A nota é clara. O parágrafo é claríssimo, diz que o PRB apoiou o golpe, diz que não concordamos com a pregação antipolítica e antipartido que eles fazem, mas diz que compreendemos os eleitores que votaram em nós e agora dizem que vão votar no Guerra porque querem derrotar o continuísmo de 12 anos na prefeitura. [... ] Quanto aos petistas a nota é mais do que clara, diz que não apoiamos nenhum dos dois, que nenhum dos dois nos representam, diz textualmente: não apoiaremos Daniel Guerra. Leia de novo e reflita bem antes de fazer um ataque desmedido. A reunião contou com quase duas centenas de pessoas, muito além do diretório, que apoiaram a nota é participaram da discussão.

 Retomo um trecho do texto da resolução: “Defendemos a necessidade de mudar a administração municipal, mas não daremos apoio formal à candidatura de Daniel Guerra”. (negrito meu). A nota defende a necessidade de mudança, posiciona-se contra o “continuísmo”, associa Daniel Guerra à aspiração dos eleitores de “derrotar o continuísmo”, mas em uma tentativa de drible de linguagem nega o apoio formal. Trata-se de uma “nota clara” e de um “parágrafo claríssimo”?

No dia seguinte, mais uma evidência. A vereadora Ana Corso publica em sua página no Facebook: “Aprovada por unanimidade a Resolução sobre posição do PT no segundo turno Fotos da Reunião Ampliada do PT/Caxias, resumindo nossa posição: NÃO AO NÉSPOLO!”.



A chamada não menciona o não apoio “formal” ao candidato do PRB. Olhando no conjunto, desde as postagens após o primeiro turno, passando pelo texto da Resolução e chegando ao post acima penso ser impossível outra interpretação que não seja o apoio tácito à candidatura golpista. E o Deputado Pepe Vargas sabe disso em seu íntimo. O que surpreende, além do erro político, é o modo como descaradamente subestima a capacidade de compreensão de muitos. O texto escrito é uma coisa, o discurso que emana dele é outra. O Deputado subestimou a capacidade de leitura, em sentido amplo, interpretativo do discurso, de que algumas pessoas são capazes.

Agora, retornando à nota da Democracia Socialista e a conclamação às mudanças no PT. Pepe Vargas é uma das figuras de ponta da DS. Fica então a pergunta: como alguém preso ao horizonte das disputas personalizadas locais, como alguém que manipula um texto jogando com a ambiguidade, pode ser uma das pessoas a liderar um movimento de mudança radical dentro do partido? Suas posturas coerentes atuando como Deputado Federal, inclusive se negando a votar em Rodrigo Maia no segundo turno das eleições à Presidência da Câmara, fizeram com que aumentasse minha admiração por ele, admiração que caiu por terra ontem, assim como caiu por terra a esperança de transformações e na construção de um novo PT.

De minha parte, nem Néspolo nem Guerra, nem Guerra, nem Néspolo. Mas a questão vai para além dos nomes, atinge o que eles significam e, sobretudo, o que significa a posição do PT caxiense em relação a isso: sintoma de um mal que, infelizmente, pode estar atingindo o partido em âmbitos maiores e inviabilizando sua existência.

Não bastasse  as investidas da direita, mão amiga do capital, há a corrosão de princípios que compromete um sonho. Muitos têm escrito sobre os rumos do PT e as teses têm algo em comum: a urgência em reinventar o partido. Eu diria que é a luta que deve ser reinventada e o menor problema do PT no momento é discutir se vota no lado A ou no lado B da direita neoconservadora. Minha sugestão é o retorno (ou a ida, alguns nunca foram) aos textos clássicos e a visita aos contemporâneos para que se restabeleça a dialogia entre prática e teoria para construir o socialismo, a práxis, isso que em tese tornaria o PT diferente de outros partidos. Como não vislumbro tal possibilidade, retiro-me à esquerda lembrando melancolicamente de minha ficha de filiação original assinada em Campinas em 1980.


           


           




* Antes que algum burocrata do PT caxiense diga o contrário, permaneci filiado entre 1980 ou 1981 (a ficha está em alguma caixa), até afastar-me no início dos anos 90 por cerca de dois anos, quando fui para o PCdoB. Retornei ao partido em Laguna, SC, por volta de 2002, a memória falha. Transferi minha filiação para Caxias do Sul, mas tive que refazê-la este ano por conta de um recadastramento que perdi. Tenho ex-companheiros no Facebook que podem atestar minha história de militância.

Lênin sim!

(Rafa) Tatiana Dias e Rafael Moro Martins, autores do artigo " ELOGIAR DITADORES É A MELHOR MANEIRA DE A ESQUERDA CONTINUAR ...