Cristóvão de Mendoza, Caxias do Sul, RS |
por Rafael José dos Santos
Os discursos contra as Ocupações
das escolas públicas apresentam-nas como episódios de desordem: algo que está
ordenado, ajustado e estável subitamente desordena-se, desestrutura-se,
subverte-se.
Tudo é dito como se a Educação e
o espaço escolar vivessem o melhor momento de suas histórias: salários dignos
aos professores e aos funcionários, boas instalações e, sobretudo, ambientes propícios
ao exercício da cidadania, nos quais os processos de ensino-aprendizagem sejam prazerosos
e envolventes, seduzindo os estudantes, apaixonando os professores.
Entretanto, não é essa a ordem
das coisas, daí vem o incômodo daqueles que se preocupam apenas com a escola
como lugar para deixar os filhos, como se ela fosse um depósito, ou daqueles
que se preocupam com os dias letivos e os conteúdos, como se isso, por si só,
garantisse a qualidade na Educação.
Salvo exceções daqueles que lutam
permanentemente pela Educação, as comunidades escolares acomodaram-se em uma
espécie de pacto de imobilidade, ritualizado em um cotidiano burocrático. Essa
é a ordem
que as Ocupações subverteram e desacomodaram. Ocupantes, professores grevistas,
funcionários, familiares e membros das comunidades que apoiam o movimentam
transformaram-se em alteridades
insuportáveis, pois revelam aquilo que não pode aflorar sob o risco de
chegarmos à conclusão de que, sob a ordem, jaz uma Educação moribunda que
sobrevive respirando por aparelhos.
Como acontece sempre que a
alteridade nos desacomoda, resistimos a ela insultando-a, discriminando-a, este
é o mecanismo subjetivo das intolerâncias. Assim, estudantes são insultados
pelos professores (que deveriam aprender algo com eles), apoiadores são
ofendidos por estarem dando suporte a um movimento no qual acreditam.
É sintomático o uso negativo da
expressão “- Os estudantes invadiram a
escola”. A ideia de invasão supõe a ocupação de um espaço que não pertence
ao invasor. Ora, se não pertence aos estudantes, a quem pertence?
Adoraria ouvir que estudantes,
professores, pais, mães e comunidade invadiram as escolas, ocuparam-nas,
transformaram-nas em espaços de aprendizagem efetiva, de diálogo (e não de
agressões físicas com teasers e
barras de ferro).
Estive em uma escola ocupada, vi
a organização e a autogestão praticada pelos estudantes, vi seus debates, ministrei
uma oficina e uma aula livre. Vi as atividades artísticas, outras aulas,
cheguei a ver uma estudante com uma check list de segirança verificando as instalações
de uma escola e, inclusive a validade (vencida) de extintores de incêndio.
Àqueles que se negaram a conhecer
as Ocupações, a conversar face a face com estudantes digo apenas que perderam a
oportunidade de aprender, mas sobretudo reaprender
a indignar-se e desacomodar-se, assumindo junto com eles a responsabilidade
efetiva por uma educação melhor.