22 de jan. de 2020

Lênin sim!

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(Rafa)

Tatiana Dias e Rafael Moro Martins, autores do artigo "ELOGIAR DITADORES É A MELHOR MANEIRA DE A ESQUERDA CONTINUAR PERDENDO" (The Intercept Brasil’)talvez não saibam talvez não se recordem, mas a tese na qual seu texto desemboca, qual seja, a da necessidade de pensar e agir pragmaticamente através de uma coalizão antiautoritária, leia-se “alianças”, tem sido tema de debates acirrados na história do movimento socialista há mais de um século. 

Lênin participou e escreveu sobre.

O que chama a atenção é o ponto de partida do raciocínio: o fato de pessoas da esquerda brasileira terem postado homenagens a Lênin por ocasião do 96º aniversário de sua morte no dia 21 de janeiro.
Tatiana Dias e Rafael Moro Martins classificam Lênin de “ditador” e desenvolvem um raciocínio tortuoso para dizer o quanto a homenagem ao líder da revolução russa, principalmente da parte de companheiros meus do PSOL, atrapalha aproximações necessárias com outras forças políticas dada a urgência de combate ao autoritarismo.
As tais aproximações, as "alianças", constituem tema interessante na esquerda brasileira: exigências de "urgências históricas" somadas ao realismo político pragmático desembocaram em desastres sucessivos na história da república. Vladimir Safatle tem excelentes análises sobre isso.
A primeira sugestão que posso fazer à Tatiana e ao Rafael é que LEIAM LÊNIN e também a história da revolução russa (pode ser a de Trotsky). Talvez se surpreendam com as análises estratégicas e orientações táticas do bom e velho camarada Vladimir, inclusive com relação a alianças e coalizões.
A segunda sugestão me ocorre depois de ler o excelente artigo de Liam O’Ceallaigh, traduzido no Portal Geledés: “Quando você mata dez milhões de africanos, você não é chamado de “Hitler”, analisando as atrocidades cometidas sob o reinado de Leopoldo II da Bélgica.
O que uma coisa tem a ver com a outra?
Simples. O artigo de O’Ceallaigh nos revela a naturalização da imagem de um geno-etnocída (cujas atrocidades fariam Hitler ficar com inveja). Pensem! Pensem em como naturalizada e desiologizada sobrevive impune nos mastros a bandeia do U.K, maior império etnocida do século XIX e início do XX (com sua monarquia socialite anacrônica), assim como a foto do mítico presidente que elevou as tropas norte-americanas no Vietnã de uma centena para 16.000 nos anos 1960.
Ora, não me venham falar de Lênin! O que Lênin fez, e fez muito, é uma coisa; o que fizeram de sua imagem depois de sua morte (imagem que vocês compraram) é debate em aberto. Alianças à esquerda passam pelos debates, não por concessões banais.

Lênin sim!

(Rafa) Tatiana Dias e Rafael Moro Martins, autores do artigo " ELOGIAR DITADORES É A MELHOR MANEIRA DE A ESQUERDA CONTINUAR ...