A escrita hoje sai sem refinamentos, não sei onde busca-los:
estou oco.
Um tanto zonzo também, desnorteado. Dormi mal, acordei no
meio da madrugada extremamente incomodado e me perguntando o quê, efetivamente,
está me deixando assim.
Tenho instrumentos teóricos e metodológicos para pensar e
interpretar discursos desse tipo, mas nesse momento fugiram-me todos,
escaparam, ficou apenas essa zonzeira atordoada, mais atordoada ainda quando vejo o sorriso de Marielle.
Conto a história:
Comovido com o assassinato de Marielle Franco resolvi fazer
uma visita à página do PSOL no Facebook e deixar uma mensagem. Ato simples, mas
senti o desejo de expressar minha solidariedade, mesmo que singela.
Passou algum tempo, notificação de comentários.
Fui checar e
qual não foi minha surpresa quando vi a “pérola” que reproduzo abaixo:
Claro que não criei debate, deixei apenas um irônico “Te
conheço?” e segui a vida, mas uma inquietação me fez retornar e visitar o
perfil da pessoa.
Uma mulher negra, como Marielle, SQN: Postagens de ódio ao
Islamismo, com concepções confusas acerca de regimes de governo (confundindo
socialismo com comunismo) e, pior, um post sobre assédio que ultrapassa o
limite da razão:
Em relação a Marielle e ao PSOL (lembrando que não sou
filiado nem pretendo), uma postagem em particular me irritou profundamente:
Essa pessoa é mais uma, uma entre milhares ou milhões de
brasileiros e brasileiras cujas ideias me fazem pensar: é burrice, inocência,
ingenuidade, canalhice, é o que, afinal?
Ah, sim, lembrei!
A eficácia da dominação reside, entre outros
fatores, na interiorização das ideias dominantes (já li isso em algum lugar).
Acrescentaria outra dimensão, a da alucinação.
A lógica tortuosa do discurso - que
não é, infelizmente, apenas dessa moça -, é um sintoma, produto de um delírio
alucinatório específico que não pode ser aplacado com psicofármacos. E se pudesse, haveria
falta de remédio no mercado: são milhares berrando asneiras, expelindo ódio.
É isto para hoje, não consigo mais que isso. Fico com o sorriso corajoso de Marielle e no sorriso dela vejo o sorriso das milhares de vítimas da violência política, dos genocídios, etnocídios e "sociocídios", com licença para o neologismo.
Um final de semana triste.
RJdS, 17/03/2018
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