17 de mar. de 2018

A IMAGINAÇÃO FASCISTÓIDE: “SABE DE UMA COISA FOI O PSOL MESMO QUE MATOU [...]”.




A escrita hoje sai sem refinamentos, não sei onde busca-los: estou oco.

Um tanto zonzo também, desnorteado. Dormi mal, acordei no meio da madrugada extremamente incomodado e me perguntando o quê, efetivamente, está me deixando assim.

Tenho instrumentos teóricos e metodológicos para pensar e interpretar discursos desse tipo, mas nesse momento fugiram-me todos, escaparam, ficou apenas essa zonzeira atordoada, mais atordoada ainda quando vejo o sorriso de Marielle.

Conto a história:

Comovido com o assassinato de Marielle Franco resolvi fazer uma visita à página do PSOL no Facebook e deixar uma mensagem. Ato simples, mas senti o desejo de expressar minha solidariedade, mesmo que singela.
Passou algum tempo, notificação de comentários. 

Fui checar e qual não foi minha surpresa quando vi a “pérola” que reproduzo abaixo:




Claro que não criei debate, deixei apenas um irônico “Te conheço?” e segui a vida, mas uma inquietação me fez retornar e visitar o perfil da pessoa.


Uma mulher negra, como Marielle, SQN: Postagens de ódio ao Islamismo, com concepções confusas acerca de regimes de governo (confundindo socialismo com comunismo) e, pior, um post sobre assédio que ultrapassa o limite da razão:




Em relação a Marielle e ao PSOL (lembrando que não sou filiado nem pretendo), uma postagem em particular me irritou profundamente:



Essa pessoa é mais uma, uma entre milhares ou milhões de brasileiros e brasileiras cujas ideias me fazem pensar: é burrice, inocência, ingenuidade, canalhice, é o que, afinal?

Ah, sim, lembrei! 

A eficácia da dominação reside, entre outros fatores, na interiorização das ideias dominantes (já li isso em algum lugar). Acrescentaria outra dimensão, a da alucinação. 

A lógica tortuosa do discurso - que não é, infelizmente, apenas dessa moça -, é um sintoma, produto de um delírio alucinatório específico que não pode ser aplacado com psicofármacos. E se pudesse, haveria falta de remédio no mercado: são milhares berrando asneiras, expelindo ódio.

É isto para hoje, não consigo mais que isso. Fico com o sorriso corajoso de Marielle e no sorriso dela vejo o sorriso das milhares de vítimas da violência política, dos genocídios, etnocídios e "sociocídios", com licença para o neologismo.

Um final de semana triste.


RJdS, 17/03/2018



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