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“Cría cuervos que te sacarán los ojos”
Rafael José dos Santos
As notícias que chegam de além Facebook Timeline é que um partido
considerado “de esquerda” avaliou como inviável o apoio a Rodrigo Maia (DEM)
porque seu nome obteve a adesão do PSL, partido do presidente da...da...república?
Certo, apoiar Maia ficou inviável, não por seu papel no golpe de 2016, não pela
história política do DEM (ex-PFL, ex-preencham-as-lacunas), mas porque ele
obteve apoio do partido bolson-ariano. Uma possibilidade levantada pela
presidência deste partido seria um acordo com o PMDB (sim, com “P” na frente),
sim, o de Temer e de outros.
O critério demonstra que o nome
de Maia seria, até então, uma opção. Nenhuma novidade, já aconteceu antes ... e foi
depois do golpe. (Registre-se que alguns parlamentares desse partido não votaram em Maia).
Chega agora outra notícia, espero que seja falsa: outro partido “de esquerda” avalia a possibilidade de apoiar
Maia que, para lembrar, tem o apoio do PSL. Sim, o partido “de esquerda” estaria
ponderando a possibilidade de votar com o partido de Bolsonaro para eleger
Maia. No cumprimento das tarefas revolucionárias, ombrear com a Direita! Nada de novo em um país que se esquece sistematicamente que Vargas foi um ditador. (Registre-se que uma deputada desse partido não votou em Maia da primeira vez).
A candidatura de Marcelo Freixo (PSOL),
de acordo com a presidência deste outro partido, seria um “caminho que nos isola” (Google it, people!).
Ah, amo os significantes: “isola”,
mas isola do quê? De quem?
Ambos os partidos “de esquerda”
têm militantes e simpatizantes que conquistaram meu respeito ao longo dos anos,
mas parte significativa das lideranças, confirmadas as notícias, não estariam a
altura daquel@s que as apoiaram.
Sabemos quais são os
pressupostos. Um deles, o velho “realismo político”, aposta nas alianças com
deus e o diabo como forma de fazer frente às várias votações que o Congresso
enfrentará neste e nos próximos anos. Confia-se, portanto, que no frigir dos ovos PMDB (com "P" mesmo), DEM e PSL estariam unânimes contra os "retrocessos". É isso? Ah, tem os cargos da Mesa Diretora também.
Qualquer outra estratégia é infantil,
esquerdista e irresponsável, como se já não tivéssemos vários exemplos
históricos, alguns recentes, outros nem tanto, de desastres decorrentes deste
tipo de aliança.
O que me chama a atenção é que no
caso dos dois partidos não se trata de uma prática inédita. Trata-se de um dos
desdobramentos da ênfase no âmbito da política institucional, no caso,
parlamentar (notem, eu escrevi “ênfase”) e da negação da construção de uma
alternativa de luta na qual os mandatos sejam ecos e suportes dos movimentos de
base, não o abrigo do caciquismo gauche.
A candidatura de Freixo “isola”,
isso é bom sinal, sinal de que as pautas por ele representadas não cabem nas
agendas do PSL, do PMDB (com “P” mesmo) ou do DEM.
Ficariam isolados, então, se
buscassem outra saída? Sim, mas já estão isolados há tempos, não no mesmo sentido usado acima em relação a Freixo: estão isolados das lutas
cotidianas no campo e na cidade, restringindo-se, em alguns casos, à prática do
“aparelhismo” e/ou do apoio cada vez mais formal e midiático aos movimentos
sociais e suas potencialidades em termos de transformações radicais na
sociedade, transformações freadas pela “articulação entre horizonte reformista
social-democrata e modelo de integração populista” apontadas por Vladimir
Safatle em seu doloroso, mas certeiro, Só
mais um esforço (São Paulo: Três Estrelas, 2017, p. 18).
Para esta “esquerda”, buscar
outra saída implicaria repensar radicalmente seus programas, suas metas,
estratégias e táticas, algo que, ao que tudo indica, não será feito.
Insistir-se-á nas velhas práticas, tentando obliterar contradições sob o manto
das alianças mais que espúrias. Contradições devem ser superadas – superação no
sentido dialético -, não apagadas ou relevadas, caso contrário nossa história
seguirá sendo assombrada por espectros, de novo lembrando Safatle.
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