Fonte: Portal Geledes |
Hoje cedo assisti um vídeo, uma moça em São Paulo sendo agredida porque disse um “não” ao ser interpelada por manifestantes favoráveis ao golpe. Aliás, o "não" feminino é bem pouco respeitado pelo conservadorismo em todas as suas variantes.
Dias atrás, um deputado federal
incitando o uso de armas de fogo contra membros do MST.
Vejo imagens que são metáforas
da exclusão, do racismo e do ódio. Foi assim que interpretei algumas imagens
dos protestos.
Claro, há algo nem um pouco metafórico em ter seu corpo agredido,
e aqui vai meu apoio e solidariedade às pessoas que foram vítimas da direita
nos últimos dias. Embora pudesse estender a ideia de metáfora às imagens de
agressão, não o farei em respeito à dor de quem sofreu no corpo e na alma o
ódio de classe.
No meio desse espetáculo de
intolerância, alguns ingênuos, mal informados ou de má-fé tentam explicar que
há, entre os manifestantes, gente de bem que não concorda com os radicalismos. Mas
eles estão lá, e enquanto estão lá suas vozes formam um uníssono com as vozes
do ódio: “Diz-me com quem andas...”.
Algumas imagens podem ser vistas
não em suas literalidades. Penso, por exemplo, no executivo “X”, sua esposa “Y”,
o bebê, e a babá de carteira devidamente assinada e com seus direitos
trabalhistas assegurados (pelo menos foi o que disseram).
Cada uma das imagens forma um conjunto
de significantes cuja literalidade inocente, como diria Barthes[1],
fornece o álibi para a naturalização de suas conotações ideológicas que, por
seu turno, são eloquentes retratos simbólicos de setores de camadas médias
altas da sociedade brasileira. Um argonauta do Facebook, Jacques Barcia, notou
isso com clareza:
Por outro lado (ou pelo mesmo,
pela direita) a armadilha midiática é fatal. Ontem à noite (e contra as
recomendações de minha companheira), liguei na Globo News para tentar
saber o que havia acontecido enquanto eu estava trabalhando. Havia um tom de
êxtase nas vozes de apresentadores e comentaristas que faziam vir a minha mente
a imagem de carniça oferecida a urubus.
Não, não havia informação. Como
bem lembrou o cientista social Laymert Garcia dos Santos: “A mídia é parte
ativa na criação de versões e ficções sobre o que acontece. O que é de fato
real soçobra”[2].
Eu iria além. No caso em questão ela não gera “versões e ficções”, mas estados
de alteração de consciência, espécie de alucinação coletiva que é surda e cega.
E os alucinados tornam-se violentos,
violência simbólica e física. O ódio está nas ruas.
[1] Roland Barthes. O óbvio e o obtuso.
[2] Disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2015/11/para-sociologo-sociedade-esta-enfeiticada-pela-midia-so-as-versoes-sao-realidade-1431.html.
Acesso em 17/03/2016.