10 de ago. de 2011

Delírios parceiros


A tua imagem era agora a junção de mil imagens. Eu podia te reconhecer de alguma forma, havia ainda um traço que delineava uma parte do teu rosto. Linha torta aqui e ali. Riscos reforçando contornos errados, mas era mesmo tu. Vez ou outra, uma linha muito fina perpassando o desenho integral se via tão infimamente solitária que parecia tudo ter acabado ali. Era então que eu podia te reconhecer. Nas pequenas linhas isoladas e frágeis, fora daquela confusão de mãos, pernas e traços grossos.
Um silêncio repentino, antecedido de algumas repetições, como se fosse um disco estragado, pedindo por favor que alguém lhe arrumasse a agulha. Ou que alguém ainda dançasse de olhos fechados e, de olhos fechados, pudesse delinear com perfeição as memórias que restaram de ti. A tua imagem dançando no vazio de uma folha branca, nas costas de um papel de anúncio, rolando no meio-fio. Riscos e mais riscos e forço uma outra perna contra a tua com um risco tosco de carvão.


Texto: Natália Borges Polesso/desenho: Rafael Santos
Quando Natália escreveu não havia visto o desenho. Quando desenhei, não tinha lido o texto.

Um comentário:

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